Leio um jornal… toca-me o desportivo, já que o outro, que mais me interessa, queda-se pelas mãos de um idoso que, não o lendo, lentamente folheia as páginas, para a frente e para trás, nunca olhando mas mantendo um dedo apontado às palavras. Ritual kafkiano complementado pela simultânea alimentação da diária tertúlia da fatalidade com um companheiro de época. Às vezes é bom que não o possa ler: não raras vezes acabo por virar a última página já possuído por um estado de revolta tal que sempre me impele no sentido da idealização de fatais cenários de protesto… ideias!
Por fim, o rapaz que veste um polo amarelo acaba por me trazer um café. Obviamente não seria hoje que se decidiria a quebrar a irritante rotina de me obrigar a olhá-lo fixa e desconfortavelmente a cada vez que se digna passar aqui pela mesa do canto sem que, mesmo assim, note que o observo e espero o cruzar de olhares que possibilite a percepção de que lhe peço algo. Por vezes penso no assunto e confesso que acho deveras estranha e paradoxal esta atitude com a de se posicionar de pé ao lado da mesa quando chego e estou ainda a compor a posição do sobretudo sobre a cadeira do lado. Muito constrangedor claro está!
Bebo o meu café (entendo-o como que da cobertura de um bolo se tratasse, sobre o pequeno almoço prévio) e penso em sair… já não devo descer à praia hoje. Está frio e a verdade é que a minha diária interacção com o mar não está prevista para esta hora. Creio que hoje, nem mesmo as gaivotas estejam para aí viradas e portanto, vou-me embora…
Olho a fila do pão e noto que está menor agora… é a hora certa. Enquanto me levanto dou a volta às coisas más e banais adversidades que me ocuparam o pensamento e sentido filosófico durante a última hora e concluo que até isso faz parte desta complexa forma de felicidade que cultivo. Acompanha-me agora um ocasional sorriso de confiança e satisfação que concluo, pela reacção de quem comigo se cruza, ser visível à multidão… Retribuem-me boa disposição… vou-me embora.