sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Um dia destes

Wait by M83 on Grooveshark

Um dia destes vou partir...
partir a cara de quem me impele no sentido da descoberta quando o mundo que me envolve é assim
tão acolhedor!

Um dia destes vou ceder...
ceder à tentação de pontapear a ambição sem medida que me atormenta e impede de apreciar ao máximo o que tenho
o que me envolve!

Um dia destes vou gritar...
e gritando gritarei tão alto que farei ver a quem lá está, tão longe, que me sinto bem aqui. E que a admiração ao alheio não é mais do que isso e que a tendência espontânea me sugere ficar por cá, com quem me quer
Tanto!

Um dia destes, com os meus, rir-me-ei das confusões!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

botão de gente



querias crescer
agir como gente grande
reger o teu mundo
e com um não rotundo
rejeitar todo o ser
que tua dita desmande

queres ser alguém

que se mostre imponente
e do alto de um trono
sem pai nem dono
jamais dizer amén
a um alguém indecente

porventura vais ser

tudo isso que anseias
mas, nesse mesmo dia
verás que tudo o que havia
o que de mau julgavas ter
ainda que o descreias
era mesmo o sustento
da tua imensa alegria...

por isso esquece

não invejes quem cresce
fica aqui connosco
neste momento tosco
de saúde e alegria
de convivência sadia
sorriso cúmplice partilhado com o pai
respeitinho e amor para com a mãe
e tudo tudo girará á tua volta
no fundamento de uma gargalhada solta
assim
no conceito próprio que criamos
do tanto que nos amamos
e no sorriso que não prendemos
quando, no pensamento
amanhã nos vemos!


sexta-feira, 9 de maio de 2014

look up


and look into each others eyes...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

em logro


Agora que me largaste a mão
e deste a liberdade de escolher
sei que nada conheço
além de ti
de mim
se diferentes somos de um só
porque em ti me confundo
e na tua vida eu moro
e nada mais vejo para além do vale do teu peito
e nada mais me consome de outro jeito
que a ideia de beber em ti
e de como te dás a mim
por pena
por amor
por vício
ardor
não sei
mas sei que dependo de ti
e sem ti
sem te ter encostada a mim
carne com carne
pele com pele
almas fundidas
tudo é gasoso
efémero
ilusório
porque a cobardia me impediu
de dar o passo em frente
de ser mais diligente
e partir em busca do que sempre te pedi
tu sabias que era assim
que não saberia o caminho para mais além
mas não mo dizias assim
não te atrevias a quebrar a ilusão
de que o barco navegava
não ao sabor do teu vento
mas frutos das minhas investidas ao leme
e tu sabias
sabias que não era eu que entrava em ti
na hora em que nos atravessávamos de paixão
eras tu quem me abraçava
de uma forma diferente é certo
mas fazia-lo porque sabias
tu sabias
sabias que me perderia na hora em que te afastasses
e por intuito de lição
por causa da minha irritação
tu largaste o meu corpo
deixaste a minha mão
e disseste-me: vai!
e eu não fui
não sabia para onde ir
e eu não fui porque me custava decidir
e eu não fui
fiquei ali
olhando-te
olhando-me
fitando a triste figura que teimava representar
e deixei-me estar
fiz de conta que não queria
mas eras tu quem sabia
a razão de eu ficar!

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Tia Miséria

Havia no princípio do mundo uma velhinha muito pobre e muito infeliz: era conhecida pela Tia Miséria. Só possuía uma casinha arruinada e uma pereira defronte da porta. Tudo sofria com paciência e resignação, mas só uma coisa não desculpava, nem perdoava: que os garotos subissem à pereira e lhe comessem as pêras. Era capaz de dá-las todas sem provar uma, mas indignava-se contra os que lhas roubavam.

Uma noite bateu-lhe à porta um pobrezinho; correu a abri-la e deu ao pobrezinho a migalha de pão que reservava para si. No dia seguinte despediu-se o pobre e disse-lhe que pedisse o que quisesse.

Só peço que as pessoas que subirem à minha pereira não possam descer sem o meu consentimento – respondeu a velhinha.

- Assim será – respondeu o mendigo.

No outro dia, quando saiu à rua, encontrou três garotos em cima da pereira.

- Ó Tia Miséria, perdoe-nos pelo amor de Deus! Tire-nos daqui, não podemos descer.

- Ah! Pois vocês diziam que não eram os ladrões das minhas pêras! Por esta vez, vá; Se lá voltarem hão-de ficar aí muitos anos.

E os garotos desceram e não mais voltaram à pereira.

Um dia de manhã, entrou-lhe em casa uma mulher de horrendo aspecto, vestida de negro e armada de foice, com as asas negras nos ombros e nos pés.

- O que me quer? - Perguntou a Miséria a tremer.

- Sou a Morte: venho buscar-te.

- Já? Pois nem ao menos me dá um ano de espera?

- Não pode ser - respondeu a Morte.

- Faça-me ao menos um favor: suba à minha pereira e colha-me a última pêra que me resta. Quero comê-la, visto que é a última.

A Morte subiu à pereira, colheu a pêra, mas não pôde descer. Pôs-se a chamar a velhinha. Esta respondeu: “Tem paciência, aí ficarás para todos os séculos. És má, tens feito muitas desgraças, roubando muitos pais aos seus filhos pequeninos...”

E a Morte ficou em cima da pereira.

Passados dias tinha a velhinha em frente da sua porta um exército, composto de padres que se queixavam de que não havia enterros, de escrivães que se lastimavam de não ter inventários, de delegados que se doíam de não fazer promoções orfanológicas, de juízes que se queixavam de não receber emolumentos das reuniões dos conselhos de família, das presidências nos actos de licitações e das sentenças em demarcações, enfim, de todos aqueles indivíduos que vivem da morte do próximo. Todos pediam à velhinha que autorizasse a Morte a descer da pereira, mas a velhinha respondia: “ Não quero, não quero e não quero”.

Falou então a Morte do alto da pereira e fez com a velhinha um contrato: poupar-lhe a vida enquanto o mundo fosse mundo. A velhinha consentiu e a Morte desceu. Por isso enquanto o mundo for mundo a Miséria existirá sobre a Terra.

Conto tradicional português, recolhido por Ataíde Oliveira

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014

o negro

Já não te livras da fama
do cheiro a musgo e da lama,
e do frio que punhas no respirar.
Lembra-me bem o encanto
e a densidade do manto
de neblina que espalhavas no ar.
Havia namoros de verão
pela frescura do chão
e da leveza que emprestaste aos sentidos.
Testemunhaste promessas
beijos trocados sem pressas
e guardaste sussurros julgados perdidos.

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
agora, o que já não és...

Labirintos de alma
percorridos sem calma
Como viagens... longas... sem fim!
Selvagem vegetação
aventuras do pé para a mão
emoções arrancadas de mim.
E se a lembrança chega até hoje
é porque a ideia não foge,
do bem que soube viver em sitios assim.

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
agora, o que já não és...

Aqueles pinheiros altos
os muros verdes, corridos aos saltos
e a sanidade do viver natural.
Cavernas e grutas
inventadas por cabeças brutas,
e era ali que assentávamos o arraial.

Por fim, a alegria vivida
nos mergulhos que ousámos dar
no tanque do campo, de carne despida
não só de roupa, mas do preconceito
do cumprimento dado sem jeito
na hora da despedida.

Espera por mim na nuvem em que me deito,
depois do éter tragado a preceito.
sinto que o tempo me escapa entre os dedos
e ainda não enchi o peito
para enfrentar todos os medos

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
hoje, o que já não és...


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

river

.
"River", de Joni Mitchell, tocado e cantado por 14 cantoras portuguesas



e já agora se, modéstia à parte, quizerem uma boa tradução, aqui vai:

Vai chegando o Natal,
E vejo-os cortar as árvores.
Assentar as renas
e cantar canções de alegria e paz...
Ah, tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui.


Não neva por cá
Tudo se mantém verde.
eu vou amealhar algum
e pôr-me a andar daqui para fora.
Ah,tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui.


Um rio tão comprido,
onde meus pés aprendessem a voar.
Ah, tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui
porque fiz meu amor chorar.


deste tudo por tudo para me ajudar
facilitaste-me a vida ao máximo,
amaste-me tanto,
até me tremerem os joelhos.
Ah, tivesse eu um rio por onde desaparecer


Mas eu sou dificil de aguentar
egoísta e depressiva.
e arranjei forma de perder o maior amor
Que um dia pude gozar.
Ah,tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui.


Um rio tão comprido,
onde meus pés aprendessem a voar.
Ah, tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui
porque fiz meu amor me abandonasse.


Vai chegando o Natal,
E vejo-os cortar as árvores.
Assentar as renas
e cantar canções de alegria e paz...
Ah, tivesse eu um rio onde patinar para longe daqui.

e depois, porque a versão da Márcia e Luisa Sobral tem um sentimento peculiar...