sábado, 2 de abril de 2011

"anima mala"




Há dias assim…
De contentamento.
Dias em que escolho por mim
o banco onde me assento!
Todos me dizem que sim,
todos me apoiam,
e me dão alento…

É nesses dias,
esses em que estou contente
e tudo me corre bem…
É neles que acabo doente.
vícios de comportamento
chocam comigo de frente
e em pouco tempo
quedo-me para além
daquilo que aguento!

Quer-me parecer que sou avesso
possesso…
Quero mas não peço
não falo…
Se quero falar logo esqueço
e calo…
Calo a minha voz
calo o coração
e treme-me a mão…
Como se fosse castigo atroz
desse teu deus
que, não sendo Baco nem Zeus,
nunca esteve comigo a sós…
São cultos que não os meus!

Na verdade…
Toda a crueldade,
o vício da maledicência,
esta demência
e tendência
Para a adversidade.
Nada disto é enfermidade
que dependa de tratamento
medicamento
ou internamento…
É o pavor de ser feliz,
de rir e dançar,
de brincar,
libertar o petiz
que governa esta alma.
Não ter medo de perder a calma,
e deixar chegar a mostarda ao nariz.

Mas vá-se lá perceber
esta ideia de me conhecer
dominar
estudar
entender
e… mesmo assim
por mim,
porque o quero,
porque o permito,
lembro-me apenas do grito
e esqueço ao que vim…
Desespero,
endoideço,
não me conheço
nem me impeço
de saltar
para lá do refrigério
porque me atrai o mistério,
ainda que esse mar
seja pleno de dor,
ardor,
calor…
e voltar
esteja para lá da sorte
não lembra quem ousara
ludibriar a morte.


José Eduardo


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