terça-feira, 1 de março de 2011

vanglórias...



Gosto dos pombos da cidade...
Gosto de imaginar que todos eles, cada um por si e na sua vez, representam não a personificação da revolta, mas a revolta traduzida num pombo!
Gosto de olhar cada um deles e imaginar que um dia, cada um por si e na sua vez, encetou o "grito de ipiranga" no seu pombal.
Gosto de os ver como seres inconformados que preferiram a dureza da vida na rua e consequente necessidade de busca do sustento à alternativa fácil de ser mais um no bando corredor.
Todos estes pombos, cada um por si e na sua vez, foram desertores da sua última corrida e, dessa vez, foram até olhados com inveja pelos pares que não tiveram coragem de deixar de o ser... Pares!!!
Gosto de os pensar inteligentes, capazes de pensar por si sós, e contentes com a sua nova vida, ao frio, à chuva, odiados por quase todos, não por mim...
Gosto de os equiparar ao louco que vagueia na praça, de distintas barbas e elevadíssimo relevo na pele...
Opto por acreditar que também eles, os pombos, cada um por si e na sua vez, abrandam o seu frenético arrulhar de modo a contemplar o louco que, nas horas de exaltação dessa loucura,  solene e veementemente declama épicos poemas que, apesar da sua extrema beleza, nunca ninguém ouvira.
Eu noto que eles, os pombos, apreciam esses momentos e chegam mesmo a confidenciá-lo entre si, o que é raro já que são de poucas falas.
Os pombos... o louco... e eu... Mobílias da cidade velha, tão rica!!!

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