quarta-feira, 25 de maio de 2011
quietação
Cultivo a languidez
a esta hora que me encontro
julgo-me no ponto
e não,
não é só desta vez...
Amo este bocado
virado para outro lado
rendido à indolência
em estado de dormência
que não é sofrimento
apesar de prostrado
encho-me de alento!
Gosto de ficar
negar o lado de lá
gosto disto
do dormitar
da hora do chá...
...e insisto!
cultivo a pasmaceira
à hora do ocaso quente
altura em que nada se sente e...
...de qualquer maneira,
sorrio, canto, falo sozinho
nada coerente!
Qual pássaro que se entrega ao seu ninho
de palhinha e ervas macias
deixo-me ir, devagarinho
a esta hora... todos os dias!
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sábado, 14 de maio de 2011
na praia lá da boa nova...
Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!Naquelas redondezas não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!Um dia (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de mau sestro e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim...
António Nobre
1867-1900Só
António Nobre
Editorial Nova Ática
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!
Um vento seco de mau sestro e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim...
1867-1900
António Nobre
Editorial Nova Ática
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quinta-feira, 12 de maio de 2011
denodo
Sei que não és uma andorinha
e muito menos consegues voar,
que te achas pequenina
te sentes só
e por muito que te apeteça gritar
apenas te dá para chorar...
Sabes,
talvez até o sejas
mas não tanto quanto desejas.
Porque afinal tu cabes
no coração de alguém
que se sinta assim também...
pequeno
sereno
cansado
esquecido
tolhido
maltratado.
Claro que te saberia bem
encontrar porventura alguém
que amasse essa tua mania
e se apegasse também
a uma vida tão fria
como a vida
que a tua vida tem...
Mas sabes, eu sei também
que esse não é o caminho a seguir:
cair,
dormir,
chorar...
Não,
o melhor é limpares os olhos,
expiar pecados,
esquecer as mágoas
e essas lágrimas ao molhos,
e optar por sorrir,
sentir,
amar...
Ser feliz!
sem regra,
modelo,
ou sugestão
Ser feliz... e...
sê-lo
à tua medida
por tua própria mão!
quarta-feira, 11 de maio de 2011
muito menos do que isso
Não, não vem...
não vem daí a inspiração
não vem daí a inspiração
não vem da solidão
não vem do amor
não vem não...
Não vem da dor
nem da alegria,
não vem da noite
nem do dia...
vem de mim
de ti
dos outros
do que viste
do que vi,
da verdade
da mentira,
da satisfação de quem dá
e da de quem tira,
vem do lado de cá...
Não vem da ilusão,
vem da vida,
da bela, nunca adormecida...
Qual João, qual pé de feijão?
Qual Romeu, qual Julieta?
a minha inspiração
vem da bengala
vem da muleta...
Vem da simplicidade
da maldade
e mais,
vê lá, até da bondade.
Vem do cru
do nu
do despido
e do ferido.
do são e do insano
da crença e do profano...
por isso
não romantizes,
não queiras pintar um quadro que não existe,
aquilo que sempre desejaste ver
e não o que verdadeiramente viste...
José Eduardo
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terça-feira, 10 de maio de 2011
sweet little thing
"Há tantas coisas no mundo que eu gosto
e sem as quais não posso viver
são tantas tantas
que eu penso e aposto
nao ser capaz de as saber dizer
gosto de rir de correr e saltar
dos passarinhos que eu ouço a cantar
gosto de ir pelos campos em flor
e pelas montanhas tão cheia de cor
gosto de cromos de computadores...
da nossa historia de navegadores
gosto de tudo o que me faz sonhar
montes de coisas que eu quero cantar
è tão simples ser feliz, pois
seja como for
são pequenas coisas que fazem da vida um hino de paz e amor."
fotografia por: José Eduardo
texto daqui: http://youtu.be/49iFus2mWCI
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quarta-feira, 4 de maio de 2011
tenho saudade...
Tenho saudade…
Saudade do tempo do pé descalço
Tenho saudade
Do cheiro da chuva no alcatrão
Tenho saudade
Da gente que aprendera a lidar com o percalço
Dos que lidavam bem com a palavra “não”
Tenho saudade…
Saudade do feno e da terra cavada
Tenho saudade
Do verão quente e dos sonhos impossíveis de alcançar
Tenho saudade
Da gente que sorria debruçada na enxada
Do naco de broa, na algibeira, a sossegar
Tenho saudade…
Saudade de amar e ser amado
Tenho saudade
Dos sorrisos fáceis e descomprometidos
Tenho saudade
Da gente simples que guiava o arado
Das crenças e dos contos outrora lidos
Tenho saudade!
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