Não pelo muito que possas ter para me oferecer mas pelo pouco que de ti aprendi a roubar.
Preso a ti…
Não porque o nó com que me ataste seja de dificil rescisão mas porque eu próprio receio desatar-me.
Chegado a ti…
Nunca pelo teu constante hábito de me abraçar mas porque, na minha mesquinhez, me tornei adito ao teu dia a dia.
Contra ti…
Por constantemente te atravessares no meu caminho? Pelas interrupções de raciocínio a que sempre me obrigas na tua exageradíssima procura de carinho? Não, apenas porque te sou intolerante nas pequenas falas que, tal como eu, possas cometer.
Viciado em ti…
menos por depender daquilo que possas ter de bom, mas muito mais porque bebo nos teus defeitos a minha criatividade.
Apaixonado!
assim estou, envolto no estranho conceito de paixão que, juntos, ideáramos!
Acho que desenvolvi uma estranhíssima capacidade de introspecção… Sim, é estranha! Uma qualquer vertente da meditação que não obriga de todo à inundação do pensamento por frases que assentam em ideias de auto-controlo ou incentivo dinâmico.
Deixa-me desenhar-te o momento e poderás talvez compreender melhor do que falo:
É a hora em que todos os outros dormem e o ar está inundado por vibrações melódicas. Como sempre, a desconcertante harmonia de “Clam, Crab, Cockle, Cowrie” tem o dom de infalivelmente me transportar para o lado de lá, lado esse que eu desconheço por completo mas onde gosto de estar. Um espaço metafísico que me proporciona um tremendo conforto emocional e que se eleva muito para além do estado etéreo a que dantes me havia habituado. Por norma, e inexplicavelmente, costumo gostar de segurar nas mãos um certo e singelo singelo copo-de-chá pintado em tons monocromáticos com sugestivas inscrições. É terrível a forma como me prendo em acções banais como, lentamente, respirar para o seu interior e sentir o calor húmido que se liberta do seu interior bater-me na cara. Dou sempre comigo a pensar que, se usasse óculos, talvez ficassem embaciados e eu rir-me-ia sozinho ainda mais do que me rio por pensar nisso.
Depois de todo este método de iniciação-de-estado religiosamente cumprido à risca segundo a estrutura que inconscientemente foi montada, são os meus olhos que, ociosamente vão dirigindo atenções e percorrendo o olhar sobre as minhas coisas: As paredes de casa, em cuja pintura encontro sempre defeitos mas rapidamente desculpo com o facto de ter sido eu a fazê-la; Os inexplicáveis objectos de decoração, cuja minúcia na concordância de formas contribuiu ou foi critério basilar e fundamental à sua escolha e claramente se sobrepôs ao seu valor conceptual; O espelho da parede do fundo que, frio e cruel, me vai diariamente injectando doses de realismo fazendo questão de me mostrar a minha triste figura, espelho esse que me tem ensinado a inutilidade de expressões politicamente correctas; e acabo por perder-me sempre sobre a estante dos livros. Aquela que, de início ali havia sido colocada pela já mencionada concordância de formas mas que, tal como esperado, rapidamente se encheu de vida e personalidade próprias. É ali que o olhar se prolonga e brinca durante uma infinidade temporal. Vou observando as lombadas e, daqui, tentando ler os títulos sorrindo a cada vez que dou comigo de sobrolho franzido porque o meu inconsciente acha que leio melhor assim e, a cada um, vou tentando relembrar o seu enredo…
“Allow me to enjoy my madness!”
Assim mesmo… desde sempre, passo dos livros para o teclado preto que antecede a janela do mundo. Janela essa em que aquele fenómeno a que chamam “web” contribui para o acentuar deste meu enorme contraste espiritual e através da qual, pragmaticamente, vou atirando ao vento notas soltas do meu carácter, vou-me libertando do lirismo deste momento de modo a abrir espaço para um outro que espero não demorar…
Gosto da minha loucura… e adoro descarregá-la para este lado da minha vida, pela transparência da minha alma!!!