Sempre a fitava a ela, que passava e sorria e mexia com desenvoltura seu quadril num gesto ardil mas pleno de formosura. Sua doçura, o seu sorrir, sua candidez matinal, seu gesto normal de saudação ao partir, tudo o encantava, a saia que balançava, os seios inconstantes balançavam vibrantes em acção de seduzir. O narizinho petulante no ebúrneo de sua face deixava-o errante em ânsias de ser seu amante seria esse o desenlace perfeito a jeito deveras interessante... Mas que diabo que ela não sabe pois entre eles não cabe qualquer motivo de diálogo nem sequer uma ideia de apelar ao catálogo das frases de ignição, nenhuma que lhe não pareça feia por carência de razão... E assim se ficou, pelo olhar interessado longe de ter imaginado que já ela o fitou e no pensamento o levou ainda que sem nome apenas como o rapaz engraçado cujo olhar a consome desejosa que a tome na solidez de seus braços lhe sinta os traços do corpo de mulher sem embaraços é só o que quer... Mas o encontro não se deu e o destino aos seus desejos não atendeu tanto ela como o menino ficaram sem beijos o tempo se foi tudo esqueceu.
Aqui me tens... A mim, por inteiro, como naquele dia, o primeiro. Chamo por ti, porque não vens? É a tua alma que chora? Logo agora que estou aqui!
Sim, bem sei... é difícil perdoar, esquecer, aceitar todo o mal que te dei e eu, que fugi e errei, tenho agora a desfaçatez de voltar.
Não e justo, por certo ter assim, esta alma errante, fugidia, viajante, e vir agora (qual Madalena) arrependido, exigir-te por perto. Olha, sou assim, despudorado e de consciência pequena.
Aproveito portanto este momento de sensatez, esta ausência de mesquinhez, para te pedir, sem pranto que me negues, de futuro, o perdão e jamais estendas a mão a mim, que te tirei tanto.
Deixa-me sofrer, obriga-me a tal, devolve-me esse mal, faz-me chorar e desejar morrer. Pois só assim, sentindo-o em mim, aprenderei, quem sabe, a amar.