domingo, 6 de março de 2016

entre-os-rios


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Eliana tinha 23 anos. Era domingo e estava em casa com a mãe e a irmã, Adélia, de 14. O pai via o jogo do Benfica na casa de um primo. O irmão, Hélder, motorista de autocarro, tinha ido trabalhar. De repente, a campainha toca. Era um vizinho a avisar que a ponte tinha caído. Eliana sai em busca do pai, que recebe a notícia com uma certeza: “Foi o Hélder”. Passados 15 anos, o quarto do irmão está intacto: a roupa pendurada nos cabides, a agenda com os serviços marcados. Os pais de Eliana dormem todas as noites no quarto do filho, desde a primeira em que Hélder faltou.
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sábado, 5 de março de 2016

de passagem

...do Chico, o Buarque: Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Conta-me agora como hei-de partir;
Se ao te conhecer, desatei a sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei os meus navios
Diz-me para onde é que ainda posso ir;
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz-me com que pernas devo seguir;
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu;
Como, se na desordem do armário embutido
O meu casaco enlaça o teu vestido
E o meu sapato ainda pisa no teu;
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair;
Não, acho que te estás a fazer de tonta
Dei-te os meus olhos para tomares conta
Agora conta como hei de partir...