Muito mais do que experiência lounge... os críticos dizem que apelidá-los de "lounge music orchestra" é bastante redutor. Concordo! Toda esta propositada complexidade e mistura de sons que à partida não casam roça a arte!!! O álbum "finest hour" inteirinho aqui.
«Diogo Soares O grande general Chamado "o Galego" O homem dos olhares fatais Comanda sessenta mil homens De terras estranhas Vencedo e lutando Por quem paga mais Eficaz nos sermões Insinuante pois Ganhou a simpatia De príncipes e samurais Já é governador Do reino de Pegu Mais forte do que o rei Mais rico por golpes mestrais
Naquela cidade Vivia um mercador De nome Mambogoá De fortuna sem fim E naquele dia O dia das bodas Casava uma filha Com Manica Mandarim Diogo Soares passou por ali Ao saber da festa Felicitou noivos e pais E a noiva tão linda Ofereceu-lhe um anel Agradecendo a honra Por gestos puros e sensuais Então o galego Em vez de guardar O devido decoro Prendeu-a e disse-lhe assim: "Ó moça formosa És minha, só minha A ninguém pertences A ninguém, senão a mim"
O pai Mambogoá Ao ver pegar o bruto Tão rijo na filha Ouvindo este insulto de espanto Levantou as mãos aos céus Os joelhos em terra No retrato da dor Pedindo e implorando num pranto "Eu peço-te Senhor Por reverência a Deus Que adoras concebido No ventre sem mancha e pecado Não tomes minha filha Não leves meu tesouro Que eu morro de paixão Que eu morro tão abandonado"
Mas Diogo Soares Mandou matar o noivo Que chorava abraçado À moça assustada Tremendo E a noiva estrangulou-se Numa fita de seda Antes que a possuísse À força o sensual galego A terra e os ares Tremeram com os gritos Do choro das mulheres Tamanhos que metiam medo E o pai Mambogoá Pedindo pelas ruas Justiça ao assassino Acorda a cidade em sossego: "Ó gentes Ó gentes Saí como raios Na ira das chuvas Na ventania do açoite E o fogo consuma Seus últimos dias E lhe despedace As carnes no meio da noite"
Em menos de um credo Numa grande grita P'lo amor dos aflitos Juntou-se ao velho o povo inteiro Com tamanho furor E sede de vingança Arrastaram-no preso Diogo Soares ao terreiro E o povo a clamar Que a sua veia seja Tão vazia de sangue De quanto está o inferno cheio E subiu ao cadafalso Cada degrau beijou Murmurando baixinho O nome de Jesus a meio
Seu filho Baltasar Soares Que vinha de casa O qual vendo assim Levar seu pai Lançou-se aos seus pés a chorar E por largo tempo abraçados No abraço dos mortais "Senhor porque vos levam Cruéis e vingativos Senhor porque vos batem E porque vos matam medonhos?" "Pergunta-o aos meus pecados Que eles to dirão Que eu vou já de maneira Que tudo me parece um sonho"
E foram tantas pedras Sobre o padacente Que este morreu bramindo O rosário dos seus pecados Ensopado na baba Do ódio dos homens Escuma animal De todos os cães esfaimados
As crianças e os moços Trouxeram seu corpo Sem vida pelas ruas Arrastado pela garganta E a gente dava esmola Oferecida aos meninos Dava como se fosse Uma obra muito pia e santa
Assim terminam os anais Do grande general Chamado "o Galego" O homem dos olhares fatais.»
Filha de uma família oriunda da Guiné Equatorial, Concha Buika nasceu em Palma de Maiorca em 1972 e cresceu no seio de uma comunidade de Spanish Romani people (ciganos), o que lhe valeu o domínio do Cante Flamenco, como único elemento de ascendência Africana no seu meio. A sua música, particularíssima, é uma mistura da irreverência do flamenco e das coplas andaluzas com a leveza do soul e a complexidade do jazz.
Durante a década de 90, participou em vários projectos destacando-se a cooperação com o espetáculo Ombra, do grupo de teatro La Fura dels Baus ou a participação na banda sonora do filme Espanhol Km.0. Em simultâneo, foi fazendo uma incursão pela house music e compondo algumas canções para pistas de dança como: "Ritmo para você", "Up to the Sky" and "Loving You".
Entre novembro de 2000 e março de 2001, passou pelos casinos de Las Vegas onde interpretou e caracterizou Tina Turner e, nesse mesmo ano, participou como artista convidade no festival blue note, onde fez parceria com a artista Rachelle Ferrell.
Sendo uma artista que aborda vários estilos musicais, (flamenco, copla, jazz, rumba, soul), e tendo ainda, como referenciado acima, composto e dado voz a temas para arranjos na house music, Concha Buika tem sido referenciada como uma das artistas com mais vivacidade e espontaneidade na cena musical Espanhola da actualidade.
O seu segundo álbum, Mi niña lola, é a prova dessa versatilidade incluindo tradicionais coplas espanholas (Mi Niña Lola, Ojos Verdes, Te Camelo), ritmos flamencos de “tanguillos” e “bulerías”, e acabando com a canção em flamenco-jazz fusion intitulada "love" e o tema original “Jodida pero contenta”.
Já o seu terceiro, Niña de fuego, contrasta com a ideia anterior e é composto maioritariamente por canções (Coplas, Bulerías, Rumbas) compostas por Javier Limón, seu produtor artístico e pela própria Buika, juntamente com clássicas coplas Espanholas, a canção que dá nome ao álbum e ainda uma balada Mexicana.
Quando, certa vez, lhe pediram que se autocaracterizasse, respondeu:
"I am bisexual, three-phase and three-dimensional."
Informações pesquisadas e retiradas da wikipedia, videos do youtube.
Numa espécie de limbo
O sonâmbulo anda feito pêndulo
Ora pende dormindo, ora pende contra o tempo
E faz deste inimigo, atrasado, correndo
Justifica um vazio interno, imenso
Fugas mentais ocupam os pensamentos
E se torna incapaz de ocupar a si mesmo
TVs, zines, jornais, químicas num intento
Bloquear os canais
Domesticar seus anseios
Que é bom desconfiar dos "bons" elementos
Feito histórias de Moebius vão tirar sua visão
E te dar olhos passivos adequados ao padrão
"Quando eu era pequeno, brincava com carrinhos à volta da mesa da cozinha. Fazia corridas e, embora fosse contra mim, os carrinhos que eu queria que ganhassem ganhavam sempre."
"Perguntei-lhe se ele já sabia que tinham inventado a música. Ele ficou um pouco surpreendido e contou-me de um país distante onde havia um palácio maior do que a montanha, um palácio rodeado de jardins tão imensos que, se uma criança os tentasse atravessar a pé, seria velha quando chegasse ao palácio. Contou-me que havia muitos anos, mil homens inteligentes se tinham fechado nesse palácio a tentar inventar a música."
Pérolas de sensibilidade humano-literária em "Uma casa na escuridão", de José Luís Peixoto