domingo, 4 de junho de 2017

aglomeração

era um homem pequenino
eterno trabalhador
que para cuidar de seu menino
não ousava sentir dor

era um homem indolente
com enorme coração
explorado por toda a gente
mais ainda pelo patrão

até que reparou
não chegar o seu quinhão
para saciar seu menino
apesar de pequenino
e aí se revoltou
aí sua indignação!

toda a gente o roubava
e ninguém ia para a prisão
toda a gente dele abusava
onde estava a justiça, então?
fosse ele o ladrão
roubasse sequer um pão
para a boca do seu menino
para pagar o seu ensino
e de imediato lhe algemavam a mão...

foi então que conheceu
outros homens pequeninos
e logo percebeu
que muitos como ele
os que sofriam na pele
as maldades do patrão
juntos entoariam
um grande e sonoro NÃO!

juntaram-se revoltados
diziam-se esfomeados
apesar de trabalharem
sol a sol, sem interrupção
seus meninos sem escola
que fazer? pedir esmola?
a quem? ao patrão?

resolveram então
unir-se em corporação
lutar pelo interesse comum
e continuar a ser só um
mas agora com toda a força
com enorme determinação
exigir que o seu trabalho
compensasse toda a mossa.
ou então...
ou então...
ou então a revolução!

domingo, 7 de maio de 2017

Mãe

É quando o mundo festeja
Que eu sinto e me aleija
A ausência de minha mãe...
É quando a alegria é imensa
Que a minha alma pensa
Na sorte que outros têm...
O mundo disse-me não
Ouvi bem alto o grito do faisão
E julguei deixar de ser eu...
Mas a memória me conforta
E a saudade menos me importa
Foi o mundo quem a perdeu...
Não eu... Não eu...

j.e...



quarta-feira, 8 de março de 2017

por ti mulher

por ti mulher eu choro...
choro porque não dura o colo de minha mãe, já que outro dever a chama.
choro porque se acaba o leite de seu peito, porque afinal o patrão também quer mama.
choro porque me negam o tempo em comum, porque trabalha quase até à hora da cama.

por ti mulher eu grito...
grito porque me passas ao lado dos dias, por entender que há tarefas que não são minhas.
grito porque me rejeitas à noite no leito, já que te foi a vontade que tinhas.
grito porque me odeias, por me ter aproveitado da carne firme e rejeitado as gordurinhas.

por ti mulher eu luto
luto pela tua identidade, para não mais seres a mulher de alguém
luto pela tua independência, para que cresças sem prestar contas a ninguém
luto por ti, para que possas escolher ser tudo aquilo que te convém!


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Sedição


chovem canivetes
e eu sem guarda chuva
assentam como uma luva
no meu corpo nu
os golpes que me remetes
mas quem os merecia eras tu

caem sobre mim
carradas de granizo
no meu corpo liso
que se oferece ao sol
mas é dureza assim
aguentar a chuva mole

Atiram-me à cara
palavras de insatisfação
há quem me levante a mão
no intuito de me bater
mas o cajado, a vara
para ti hão-de ser

aceito para já
o engano de julgamento
na língua vou tendo tento
porque sei que há-de chegar
o dia em que virá
a verdade, ao decima, a borbulhar!

Esconde-te lá ó cabrão
que os cornos te hão-de denunciar
por mais que tentes escapar
da justiça das mãos da gente
é que um dia eles virão
e serás arrastado ó delinquente!

provarás do teu próprio veneno
que não mata mas aleija
serás o moribundo que braceja
gritando por misericórdia
mas o eco será pequeno
e morrerás envolto de mixórdia...

j.e...