Comprei um barquinho para me levar
o casco quebrou
e já não me levou
e não encontrei com que remediar.
Pedi a uma gaivota que me mostrasse mar
mas ela exigia
uma certa quantia
coisa que eu não podia pagar.
Tentei encontrar outra solução
e lancei-me a nado
desde a foz do Sado
a corrente me arrastou de volta ao pontão.
Marquei a passagem de avião ao Brasil
mas as nuvens do céu
escuras como breu
taparam a vista de forma nada subtil,
e eu dei por mim a distâncias mil...
Para regressar fui pedinte na praça
arranjei camisa
furada da traça
e calça de ganga lisa
presa por uma baraça
abdiquei de comer
mas não sem beber
mas a saudade não deixa esquecer.
Num velho navio arranjei trabalho
numa cozinha a tresandar a alho
dois meses no mar
como um bandalho
barba crescida
ambição reprimida.
Chegado à terra
olhei o oceano
pois tinha pavor a este povo ufano
lá para o Restelo
cruzei-me com um velho
nada camelo
a coçar o guedelho
Contei-lhe esta minha ambição
e o raio do velho chamou-me cabrão
- Cabrão o quê? - retorqui eu...
- Então não tiveste o mar todo na mão
vindo de barco até à nação?
Ah velho vadio
personagem sombrio
que me vens tu ensinar?
tu que paraste em frente ao rio
nada percebes do mar!!!
Caí... e no momento seguinte me levantei ergui a cabeça olhei em redor com pressa e logo logo recomecei Caí... e assim que caí em nada mais pensei senão na vergonha que iria sentir. ergui a cabeça olhei em redor com pressa não fosse alguém por ali notar que a minha vaidade se estava a partir Caí... e nesse momento no exato em que me precipitei ao chão duro como pedra era pedra sem que tivesse tempo de amparar com a mão pensei no agora em como estaria a mentir a dizer que logo havia de me erguer olhar em redor com pressa e o medo que alguém estivesse a ver Caí... e toda a gente viu e da minha triste figura pisado borrado toda a gente riu, e eu zangado amuado sisudo beiçudo fugi... e fui chorar para longe dali!