sábado, 27 de novembro de 2010

reacções mentais involuntárias... pela manhã!



Descubro-me a tomar o pequeno almoço no lugar de sempre, não o metafísico mas o real, onde elevo o conceito de “brunch” aos píncaros da sua essência. Lá fora vive-se a época glaciar mas aqui, usufruindo do estatuto consolável que é concedido a locais semelhantes, está um calor bom que me obriga a concordar com a maioria (e o que isso me custa)… Ainda assim, peço educadamente ao funcionário que feche aquele postigo que vai permitindo a entrada de um ar fresco que me fustiga as costas e provoca um curioso movimento oscilante na árvore de natal que nos separa, a qual evito olhar para não cair na tentação de iniciar a brincadeira entre olhos e luzes (vícios de fotógrafo sobre conceitos de profundidade de campo de focagem).
Leio um jornal… toca-me o desportivo, já que o outro, que mais me interessa, queda-se pelas mãos de um idoso que, não o lendo, lentamente folheia as páginas, para a frente e para trás, nunca olhando mas mantendo um dedo apontado às palavras. Ritual kafkiano complementado pela simultânea alimentação da diária tertúlia da fatalidade com um companheiro de época. Às vezes é bom que não o possa ler: não raras vezes acabo por virar a última página já possuído por um estado de revolta tal que sempre me impele no sentido da idealização de fatais cenários de protesto… ideias!
Por fim, o rapaz que veste um polo amarelo acaba por me trazer um café. Obviamente não seria hoje que se decidiria a quebrar a irritante rotina de me obrigar a olhá-lo fixa e desconfortavelmente a cada vez que se digna passar aqui pela mesa do canto sem que, mesmo assim, note que o observo e espero o cruzar de olhares que possibilite a percepção de que lhe peço algo. Por vezes penso no assunto e confesso que acho deveras estranha e paradoxal esta atitude com a de se posicionar de pé ao lado da mesa quando chego e estou ainda a compor a posição do sobretudo sobre a cadeira do lado. Muito constrangedor claro está!
Bebo o meu café (entendo-o como que da cobertura de um bolo se tratasse, sobre o pequeno almoço prévio) e penso em sair… já não devo descer à praia hoje. Está frio e a verdade é que a minha diária interacção com o mar não está prevista para esta hora. Creio que hoje, nem mesmo as gaivotas estejam para aí viradas e portanto, vou-me embora…
Olho a fila do pão e noto que está menor agora… é a hora certa. Enquanto me levanto dou a volta às coisas más e banais adversidades que me ocuparam o pensamento e sentido filosófico durante a última hora e concluo que até isso faz parte desta complexa forma de felicidade que cultivo. Acompanha-me agora um ocasional sorriso de confiança e satisfação que concluo, pela reacção de quem comigo se cruza, ser visível à multidão… Retribuem-me boa disposição… vou-me embora.
José Eduardo

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"aversão inveterada e absoluta"


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Alguma vez te sentiste tentado pelo desconhecido? já pois... ias lá agora tu apresentar uma imagem de vida vazia. logo tu, cujo lema próprio sempre se agarrou bem firme ao conceito de nobilitação da vivência pessoal... Tu que te julgas na imensidão não pelo que és mas por com-quem-te-dás... Logo tu que jamais assumirias qualquer desconhecimento conceptual mesmo que em vasta e eclectíssima tertúlia, daquelas para as quais jamais serias convidado mas afirmas participar... Tu... Tu que te atiras de cabeça contra o muro da vergonha que é ser alvo de sorrisos de chacota motivados pela tua omissão de humildade mas não sentes... Aqueles que se riem de ti não o fazem em modo visível, porque são cordiais, cultos, inteligentes e resilientes, e tu, porque não vês, também não sentes... e és feliz!!!

E eu, porque sou reles, apesar de culto... porque sou invejoso, ainda que bom... porque teimo em viver não só a minha vida mas, por vezes ainda mais, a dos outros... Por tudo isto, enervo-me ao perceber que és feliz. Como sou reles, se pudesse, jamais te concederia tal benefício...

José Eduardo

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

fátuo



Anos a fio em busca da diferença, da presunção de felicidade apoiada na originalidade... tempos perdidos pensando que os ganhava de facto, cultivando amizades e recrutando-as para o meu campo de pensamento. Indefinições que ansiosamente sorvia e amava como se de alimento vital se tratasse. Vejo que fui bom, competente, convincente... vejo que muitos me acompanharam e outros, ainda que não, satisfizeram-me com o seu olhar de legitimação da ideia por mim fundada. Muitos me rodearam sem a mínima preocupação em entender a complexidade deste meu "alter ego"... Outros se deram arrogantemente a entender que me ultrapassavam ainda que, mesmo esses, nunca tenham percebido por onde andei. Talvez tenha criado uma moda, talvez a diferença se tenha tornado uma necessidade para muita gente e foi aí que me apercebi do fastidioso estado que atingi! A diferença tinha deixado de o ser... e passei a odiar-me por já não ser diferente!


José Eduardo