terça-feira, 9 de agosto de 2011

o início ao fim




À hora do entardecer imitamos a dança dos astros. eu sou o sol e tu não és a lua, és o mar, e os nossos lábios são a espuma das ondas que vão e vêm, em subtis contactos e olhares de sedução. fitamos o horizonte e deixamos cair a consideração sobre o apaixonado aninhar do enorme e quente sol sobre a águas gélidas deste mar de outono. é nesta altura que gostamos de cá estar, abandonados ao silêncio e reencontrados em pensamento comum. imitamos a vida que olhamos, mais uma vez, como todos os dias, mas aqui de forma romântica e em langores de prazer. sugeridos pela imagem tocamo-nos também, já o calor da imagem incentivara à escassez de agasalho mas agora, impelidos pelo entusiasmo do contacto, a vontade corre loucamente na direção da total ausência de barreiras à paixão da carne. o pôr de sol é lento, e lenta é a nossa paixão. o tegumentário contacto impeliria rumo à aceleração dos movimentos, à ofegância do respirar e do amar, mas... nós não somos assim. passeamo-nos pelo estádio de maturidade em que o domínio dos delírios é opção credível e, prazerosamente, preferimos deixá-los escapar a gosto e com gosto. é então que admiramos a belíssima gradação crepuscular, lembramos a canção e olhamos de novo ao longe, lá onde o tórrido disco solar se envolve completamente num mar que parece esperá-lo, fecundo e feliz, ansioso pela invasão do companheiro e amante. alguém nos observasse agora e ficaria assim, com o pensamento no nosso, apreciando a cópia que habilmente desenhamos com nossos corpos e como, suave e apaixonadamente, nos fundimos também num só, e os umbigos se colam beijando-se também, até ao abandono da acção de índole pacífica e o começo do delicioso frenesiar de estado. Amámo-nos assim, obstinadamente loucos e sensatos em simultaneidade de caracterização de um único amor, uma única ação, uma só vida, somos um só, fundidos em êxtase que resultará em explosão de sensações, extremar de emoções... Apaixonados, eternos namorados!

Sem comentários: