quarta-feira, 31 de março de 2010

adorável quotidiano

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Sentado na esplanada à beira mar tento enxergar um pouco do sol que, apesar de ainda prometer uma boa meia hora de sorrisos, se vai escondendo por detrás da lugubridade de uma enorme nuvem negra que, deixando-se levar por todo o seu egoísmo, o vai escondendo da cobiça alheia.
Na esplanada, apesar do vento frio e desconfortável, um par de amantes, namorados ou não, vai partilhando sorrisinhos apaixonados e comentando trivialidades que se lhes deparam na paisagem.
Naquele madeiro de estrutura apaixonante que se situa na imaginária linha de separação entre praia e povo desfilam pessoas de todas as aparências e feitios que insistem em espalhar sua vaidade por um espaço destinado ao lazer e bem estar.
Cá dentro, no aconchego destas paredes de vidro que filtram o vento e deixam passar o calor, um casal de meia idade partilha um lanche de ocasião sem que qualquer assunto ou visão lhes mereça o mínimo comentário que possa interromper o manjar inicialmente imaginado como de circunstância. Tenho a sensação de ter visto muitos casamentos acabarem assim ou até mesmo por serem assim.
Ao fundo da sala, um jovem solitário toma um café a pretexto de poder usufruir da Internet à borla que o bar concede aos clientes. Podia-o assemelhar ao meu comportamento mas não... Eu venho em busca da criatividade e do sossego, venho à fonte de palavras, de imagens, à procura do bem estar que fomenta a eloquência... Ele não... é mesmo só pela Internet à borla!!!
As conversas dos funcionários, tantos quantos os clientes, são bem audíveis. Consigo interpretar claramente aquilo que dizem, talvez porque o meu impulso de ingerência me impele para tal... Percebo que um deles está agastado hoje. Ao que me parece, convidou um outro para beber um café após o trabalho mas a proposta não teve retorno positivo... Sentencio logo a sua condição de homossexual e logo me envergonho de dar importância ao assunto.
Talvez por isso, volto a dirigir o meu olhar e atenção para o exterior e, surpresa, o sol já se pôs sem que tenha dado por isso. Olho para a câmara e sinto que ela me fita com ar de revolta e reprovação! Há um enorme barco ao largo cuja totalidade das formas tenho dificuldade em enxergar mas nada que não me impeça de, ao cabo de um momento, perceber que espera pacientemente mas com ar de desagrado, que um pequenino da sua espécie se digne orientá-lo para a barra de acesso ao porto.
Volto a olhar para dentro... espero que os olhos se acostumem à luz que entretanto se acendeu e vou reparando numa bela jogada de golo que a sportv reporta de um qualquer jogo da união de Leiria.
A chávena do café está fria e exala um odor a café frio que em nada se compara ao suave aroma da torrefacção quando quente. Peço outro para não assolar o momento e de imediato o som do moinho do pequeno grão, apesar de incaracterístico, me alegra a níveis que me surpreendem.
Acho que me vou embora... O laranja do horizonte cativa-me o olhar apesar da ventania que, não sentindo na pele, consigo perceber e decido com altivez que tal não encaixa neste cenário.
Há uma bela jovem em trajes desportivos que se aproxima ao longe e faz com que me demore no acto de abandonar o local... Já passou... vou embora.
Noto que alguém me fita como eu mesmo tanto gosto de fazer... Imagino essa pessoa fazendo uma má interpretação do meu carácter, imaginando-me depressivo, sozinho por imposição... mas não!!! é por opção... Vou embora!
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