quinta-feira, 28 de novembro de 2013

logo que passe a alucinação

Logo que Passe a Monção by Rui Veloso on Grooveshark

Comprei um barquinho para me levar
o casco quebrou
e já não me levou
e não encontrei com que remediar.
Pedi a uma gaivota que me mostrasse  mar
mas ela exigia
uma certa quantia
coisa que eu não podia pagar.
Tentei encontrar outra solução
e lancei-me a nado
desde a foz do Sado
a corrente me arrastou de volta ao pontão.
Marquei a passagem de avião ao Brasil
mas as nuvens do céu
escuras como breu
taparam a vista de forma nada subtil,
e eu dei por mim a distâncias mil...
Para regressar fui pedinte na praça
arranjei camisa
furada da traça
e calça de ganga lisa
presa por uma baraça
abdiquei de comer
mas não sem beber
mas a saudade não deixa esquecer.
Num velho navio arranjei trabalho
numa cozinha a tresandar a alho
dois meses no mar
como um bandalho
barba crescida
ambição reprimida.
Chegado à terra
olhei o oceano
pois tinha pavor a este povo ufano
lá para o Restelo
cruzei-me com um velho
nada camelo
a coçar o guedelho
Contei-lhe esta minha ambição
e o raio do velho chamou-me cabrão
- Cabrão o quê? - retorqui eu...
- Então não tiveste o mar todo na mão
vindo de barco até à nação?
Ah velho vadio
personagem sombrio
que me vens tu ensinar?
tu que paraste em frente ao rio
nada percebes do mar!!!

José Eduardo

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