sábado, 25 de janeiro de 2014

o negro

Já não te livras da fama
do cheiro a musgo e da lama,
e do frio que punhas no respirar.
Lembra-me bem o encanto
e a densidade do manto
de neblina que espalhavas no ar.
Havia namoros de verão
pela frescura do chão
e da leveza que emprestaste aos sentidos.
Testemunhaste promessas
beijos trocados sem pressas
e guardaste sussurros julgados perdidos.

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
agora, o que já não és...

Labirintos de alma
percorridos sem calma
Como viagens... longas... sem fim!
Selvagem vegetação
aventuras do pé para a mão
emoções arrancadas de mim.
E se a lembrança chega até hoje
é porque a ideia não foge,
do bem que soube viver em sitios assim.

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
agora, o que já não és...

Aqueles pinheiros altos
os muros verdes, corridos aos saltos
e a sanidade do viver natural.
Cavernas e grutas
inventadas por cabeças brutas,
e era ali que assentávamos o arraial.

Por fim, a alegria vivida
nos mergulhos que ousámos dar
no tanque do campo, de carne despida
não só de roupa, mas do preconceito
do cumprimento dado sem jeito
na hora da despedida.

Espera por mim na nuvem em que me deito,
depois do éter tragado a preceito.
sinto que o tempo me escapa entre os dedos
e ainda não enchi o peito
para enfrentar todos os medos

Quero sentir
de novo, o feno nos pés...
Quero viver
hoje, o que já não és...


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