sábado, 3 de outubro de 2009

Governabilidade

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Ao longo dos últimos dias (rescaldo das legislativas), o país tem assistido à generalização da opinião que assenta no facto de o panorama parlamentar resultante das eleições não conceder ao PS condições de governabilidade sem uma coligação. O que mais me aborrece é que os jornalistas cá do burgo parecem alinhar todos pela mesma cartilha e, tendo os seus ícones proferido tal barbaridade, adoptaram a sua sustentação até à exaustão. Nestes dias que se seguiram às eleições, toda a gente se parece convencer de que governar sem maioria absoluta é um desastre e dá ideia de ninguem sequer conceber a possibilidade do contrário.

Os resultados eleitorais das últimas legislativas e o panorama parlamentar que deles resultou confere, na minha opinião, a máxima possibilidade de se exercer democracia neste país. Nunca por cá um governo de maioria absoluta conseguiu governar democraticamente (ou se interessou por isso). A imposição absoluta da vontade de pouco mais de metade da população sobre todo o resto não é sinónimo de democracia. Um governo deverá portanto obviamente enfatizar a presença de políticas suas na sua governação mas terá obrigação de, de acordo com a representatividade eleitoral dos restantes partidos, ir polvilhando a sua governação com acções pontuais que se assemelhem à opinião de outras ideologias. E que governo de maioria absoluta o fará espontaneamente? Nenhum obviamente...

Por isso afirmo que o actual panorama parlamentar é o melhor que podemos ter (salve-se a ideia de cada um acerca das diferenças entre os pequenos partidos) porque simplesmente obrigará o próximo governo a governar para todas as ideologias representadas na assembleia. Como? Governando sobre o seu programa eleitoral e polvilhando a sua governação com propostas e ideias dos partidos que se representam na oposição, afluindo a cada um de acordo com a sua representatividade eleitoral. Além do óbvio PSD, já BE e PCP o disseram públicamente, que estarão dispostos a viabilizar as políticas do próximo governo desde que este se assuma mais próximo das suas linhas ideológicas. O CDS ainda espera a possibilidade de coligação mas, dado o seu comportamento quando oposição, representará tambem uma mais valia na assembleia da República.

De uma vez por todas, é tempo de entender a democracia tal como ela é, e deixarmo-nos de joguetes editoriais que servem apenas para manter o ganha pão dos paineleiros habituais...
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