sábado, 8 de janeiro de 2011

"invetero"



Acho que desenvolvi uma estranhíssima capacidade de introspecção… Sim, é estranha! Uma qualquer vertente da meditação que não obriga de todo à inundação do pensamento por frases que assentam em ideias de auto-controlo ou incentivo dinâmico.
Deixa-me desenhar-te o momento e poderás talvez compreender melhor do que falo:

É a hora em que todos os outros dormem e o ar está inundado por vibrações melódicas. Como sempre, a desconcertante harmonia de “Clam, Crab, Cockle, Cowrie” tem o dom de infalivelmente me transportar para o lado de lá, lado esse que eu desconheço por completo mas onde gosto de estar. Um espaço metafísico que me proporciona um tremendo conforto emocional e que se eleva muito para além do estado etéreo a que dantes me havia habituado. Por norma, e inexplicavelmente, costumo gostar de segurar nas mãos um certo e singelo singelo copo-de-chá pintado em tons monocromáticos com sugestivas inscrições. É terrível a forma como me prendo em acções banais como, lentamente, respirar para o seu interior e sentir o calor húmido que se liberta do seu interior bater-me na cara. Dou sempre comigo a pensar que, se usasse óculos, talvez ficassem embaciados e eu rir-me-ia sozinho ainda mais do que me rio por pensar nisso.
Depois de todo este método de iniciação-de-estado religiosamente cumprido à risca segundo a estrutura que inconscientemente foi montada, são os meus olhos que, ociosamente vão dirigindo atenções e percorrendo o olhar sobre as minhas coisas: As paredes de casa, em cuja pintura encontro sempre defeitos mas rapidamente desculpo com o facto de ter sido eu a fazê-la; Os inexplicáveis objectos de decoração, cuja minúcia na concordância de formas contribuiu ou foi critério basilar e fundamental à sua escolha e claramente se sobrepôs ao seu valor conceptual; O espelho da parede do fundo que, frio e cruel, me vai diariamente injectando doses de realismo fazendo questão de me mostrar a minha triste figura, espelho esse que me tem ensinado a inutilidade de expressões politicamente correctas; e acabo por perder-me sempre sobre a estante dos livros. Aquela que, de início ali havia sido colocada pela já mencionada concordância de formas mas que, tal como esperado, rapidamente se encheu de vida e personalidade próprias. É ali que o olhar se prolonga e brinca durante uma infinidade temporal. Vou observando as lombadas e, daqui, tentando ler os títulos sorrindo a cada vez que dou comigo de sobrolho franzido porque o meu inconsciente acha que leio melhor assim e, a cada um, vou tentando relembrar o seu enredo…

“Allow me to enjoy my madness!”

Assim mesmo… desde sempre, passo dos livros para o teclado preto que antecede a janela do mundo. Janela essa em que aquele fenómeno a que chamam “web” contribui para o acentuar deste meu enorme contraste espiritual e através da qual, pragmaticamente, vou atirando ao vento notas soltas do meu carácter, vou-me libertando do lirismo deste momento de modo a abrir espaço para um outro que espero não demorar…
Gosto da minha loucura… e adoro descarregá-la para este lado da minha vida, pela transparência da minha alma!!!

José Eduardo

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